domingo, 3 de abril de 2011

THX: Um marco histórico para o cinema




O filme THX de George Lucas retrata, não apenas uma discussão acerca da estrutura social vista como máquina, mas, também, relações iconológicas derivadas da áurea histórica pelo qual o filme estava sendo produzido. Nessa perspectiva, a metáfora da máquina como uma organização padronizada, racional, precisa e eficiente, observada na própria estrutura narrativa do filme, deve ser também analisada através de uma abordagem histórica.

No final dos anos 60, Hollywood passava por um momento de crise financeira e estrutural. Constituía um império em decadência acelerada e caminhava na contra mão da realidade cinematográfica mundial. Enquanto a Nouvelle Vague Francesa produzia filmes inovadores, abordando novas linguagens, a indústria Hollywoodiana (salve algumas exceções), produzia filmes com temática rotineira e repetitiva. Ou seja, neste período, Hollywood representava, dentro do cinema, uma organização mecanizada, racional, com metas de produção e objetivos pautados no lucro. Enquanto isso, o cinema Francês guiado pela Nouvelle Vague , representava inovação e emoção.

Ao considerar Hollywood como uma organização, que naquele período histórico ( anos representava o que de mais técnico e racional existia no cinema, Hollywood estava negligenciando o fato de que as organizações são muito mais complexas do que meramente estruturas padronizadas. E é neste processo de mudança, que o filme THX se insere.

No final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970, Hollywood que demonstrava anteriormente características da administração clássica, passa por uma reforma impulsionada por novos diretores, como o próprio George Lucas, onde a função de Direção de filme, função negligenciada anteriormente e de pouco valor, passa a ganhar importância e significado. Era como se de um sistema administrativo científico, a nova Hollywood ditada por cineastas como Lucas, adquiri-se uma conotação científica de administrar. Ou seja, ocorre o aperfeiçoamento do desenho técnico onde o aumento da divisão do trabalho auxiliou no aumento da eficiência nas produções de filmes. O produtor passa a desempenhar apenas a função de produção e o diretor passa a representar uma peça atuante no processo como um todo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Cena final do filme Andarilho: A importância de se compreender a linguagem cinematográfica



Na cena final do filme, através de um plano geral da parte superior da estrada, pode-se observar um andarilho, quase um ponto na imensidão, empurrando seu abrigo sobre rodas. Com um caminhar lento e continuo o andarilho perambula pela beira da estrada, enquanto carros e caminhões cruzam o seu caminho. Ao redor da estrada, a paisagem natural absorve aquela movimentação. Cada elemento da cena ganha um significado. A natureza, que absorve o caminhar lento do andarilho, apresenta-se imponente e imensurável e, por ser incalculável, ganha um significado metafórico, silencioso e elementar na vida do personagem. A solidão, portanto, abriga e corrompe toda a trajetória. Enquanto isso, a estrada parece guiar um destino que mais se parece com uma fuga. À margem da estrada o andarilho também se encontra à margem da sociedade, como uma peça de descarte que a solidão abrigou. Por fim, a estrada sinuosa: um destino incerto, objetivo indeterminado e opaco.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Amarcord: Um filme para se Recordar



Estruturado a partir de um roteiro não linear, o filme Amarcord de Felinni representa alto grau de neo-realismo no cinema.
Não existe aqui uma ordem cronológica de acontecimentos. Como em um sonho, recordações fragmentadas dão forma ao coletivo.
A estrutura lógica não possui espaço, o realismo ganha asas e transcende o princípio holywodiano.
Uma obra prima, um sopro de nostalgia, surrealismo e recordações.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Romances Inteligentes : Antes do amanhecer e Antes do por do sol


De certo modo acho que nunca tinha assistido um romance inteligente, um romance que me fizesse refletir sobre a vida, relacionamentos e tudo mais.
Tudo bem que os clichês hollywoodianos tornam isso um tanto quanto difícil e acabamos encontrando sempre o mesmo padrão estereotipado nos cinemas.
Mas esse filme de certo coloca varias cartas na mesa.
Será que relacionamentos duradouros conseguem manter sua essência sem se desgastar com o tempo? Será que apenas compreendemos o amor nos momentos singulares e temporários ou será que ele pode ser compreendido e construído com a experiência da convivência?
Talvez exista uma resposta para cada pergunta, talvez não. Talvez cada amor seja singular e difícil de ser comparado. Contudo, o filme deixa claro que sempre haverá uma noite inesquecível, um momento “antes do amanhecer” ou um momento “antes do por do sol” que podem traduzir um significado muito mais valoroso do que anos de relacionamentos e de declarações de amor.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A arte de se produzir um Épico


Kubrick não se preocupou em criar um filme nostálgico ou com um final surpreendente como ocorre na maioria de suas obras primas.



No filme Barry Lyndon de 1975, a leveza toma forma, a seqüência linear dos fatos é suave e lírica, as cenas apresentam contornos graciosos tornando o conjunto harmônico e belo.


Aqui, cada frame é uma obra de arte devendo ser analisado seguindo princípios iconográficos para a compreensão da sua real beleza e significância.

Não é atoa, portanto, que o filme ganhou o oscar de melhor direção de arte em 1975 .

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O surrealismo passou por aqui




Vanguardista, inovador, futurista, catártico e abstrato, na minha concepção algumas palavras que poderiam definir a cena final do filme " 2001 uma odisséia no espaço" chamada: Para além do infinito.

Acredito que não existe aqui uma lógica explícita, um significado conceitual, tudo caminha pelo campo da ação abstrata, do intangível.
A metafísica parece ganhar forma e corpo, é visível mas ambígua, real mas também supra-real.

Para além do infinito,por ser essência é inovador, por ser transcendente rompe, por ser vanguardista inova e por ser inconsciente é surreal.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Luz, câmera, ação!


Uma cena, uma luta, uma nova perspectiva, um novo olhar cinematográfico. Kubrick em seu primeiro filme como diretor mostrou ao mundo que ainda existiam muitas formas de se explorar posicionamento e enquadramento de luz e câmera.

Tudo fica a encargo da luta de boxe, uma cena de aproximadamente 5 minutos do filme " A morte passou por perto" de 1955. Genialmente planejada, a luta é filmada de dentro pra fora, ou seja, Kubrick filma os boxeadores a partir do interior do combate, como se o expectador estivesse diretamente relacionado a cena. Planos fechados das luvas e dos rostos também ajudam a dar essa impressão, sendo que o movimento das mãos é destacado através de uma perspectiva de filmagem abstrata: não é possível ver claramente o movimento das mãos, mas sim um contexto de interação entre os personagens.

Em "A morte passou por perto" o argumento é colocado em um plano secundário: o que importa é a dimensão de cinema-cinema. Um trabalho de força plástica, de expressão rítmica que muitas vezes não foi compreendido em sua grandeza. ( Glauber Rocha, O século do cinema)