Kubrick não se preocupou em criar um filme nostálgico ou com um final surpreendente como ocorre na maioria de suas obras primas.
No filme Barry Lyndon de 1975, a leveza toma forma, a seqüência linear dos fatos é suave e lírica, as cenas apresentam contornos graciosos tornando o conjunto harmônico e belo.
Aqui, cada frame é uma obra de arte devendo ser analisado seguindo princípios iconográficos para a compreensão da sua real beleza e significância.
Não é atoa, portanto, que o filme ganhou o oscar de melhor direção de arte em 1975 .
Vanguardista, inovador, futurista, catártico e abstrato, na minha concepção algumas palavras que poderiam definir a cena final do filme " 2001 uma odisséia no espaço" chamada: Para além do infinito.
Acredito que não existe aqui uma lógica explícita, um significado conceitual, tudo caminha pelo campo da ação abstrata, do intangível. A metafísica parece ganhar forma e corpo, é visível mas ambígua, real mas também supra-real.
Para além do infinito,por ser essência é inovador, por ser transcendente rompe, por ser vanguardista inova e por ser inconsciente é surreal.
Uma cena, uma luta, uma nova perspectiva, um novo olhar cinematográfico. Kubrick em seu primeiro filme como diretor mostrou ao mundo que ainda existiam muitas formas de se explorar posicionamento e enquadramento de luz e câmera.
Tudo fica a encargo da luta de boxe, uma cena de aproximadamente 5 minutos do filme " A morte passou por perto" de 1955. Genialmente planejada, a luta é filmada de dentro pra fora, ou seja, Kubrick filma os boxeadores a partir do interior do combate, como se o expectador estivesse diretamente relacionado a cena. Planos fechados das luvas e dos rostos também ajudam a dar essa impressão, sendo que o movimento das mãos é destacado através de uma perspectiva de filmagem abstrata: não é possível ver claramente o movimento das mãos, mas sim um contexto de interação entre os personagens.
Em "A morte passou por perto" o argumento é colocado em um plano secundário: o que importa é a dimensão de cinema-cinema. Um trabalho de força plástica, de expressão rítmica que muitas vezes não foi compreendido em sua grandeza. ( Glauber Rocha, O século do cinema)
Não explicarei aqui quem foi Hitchcock e sua importância para o cinema. Portanto, decidi apenas analisar a linguagem cinematográfica deste gênio do suspense em uma cena clássica de seu filme "Psicose" Pode-se dizer que o grande lance da estrutura/linguagem cinematográfica nessa cena, fica por conta da utilização dos recursos advindos da própria técnica de filmagem. Neste sentido, os grandes primeiros planos do chuveiro, das mãos, da faca e do rosto, constituem os elementos, que somados, formulam a originalidade, acabando por criar e constituir todo o clima de suspense. Alem deste aspecto preponderante, vale ressalta que a atmosfera criada pela sonoplastia aguda e pesada auxilia em muito este clima de suspense e terror proposto por Hitchcock.
O cineasta francês da era Nouvelle Vague passou durante sua infância algo como uma juventude transviada . Truffaut era um pequeno delinqüente que matava aulas e cometia pequenos furtos para assistir filmes no cinema, sempre sua maior paixão. E foi justamente baseado nos conturbados anos de vadiagem de Truffaut, que surgiu seu primeiro filme “Os incompreendidos” de 1959. O mais curioso dessa história toda é que o filme havia sido rodado sem som, posto mais tarde, pois Truffaut não tinha dinheiro para o equipamento de gravação. Outro fato interessante é que não existia um roteiro fixo, sendo assim as cenas eram gravadas na base da improvisação.
Mas, situando o filme, pode-ser dizer que o brilhantismo do cineasta fica por conta da cena final, onde Antonine: jovem problemático que havia sido expulso de casa e que então foge do reformatório, corre em direção ao mar em uma belíssima seqüência de imagens. Finalmente ao pisar na areia, onde as ondas morrem, ele virasse levemente para a câmera e a imagem congela, o filme acaba!
Tudo bem, mas então qual seria o real significado daquela cena final? Pode-se dizer que o mar, em uma reflexão conotativa, representaria a imensidão de um plano infinito, a fuga de todo o sistema repressivo, em direção ao desconhecido, ao novo, a busca incansável pela liberdade e pela esperança que tange o espírito jovem.
James Dean, jovem anjo colorido em celulóide e nal, adolescente em velocidade além de macho fantasiado pelo desespero mecânico, liberta, com a morte, os meninos terriveis sem flores, sóis e ritmos. Anjo rebelde contendo o demônio insatisfeito e atormentado por uma condição de Édipo inconsciente - a jovem mãe que o embalou e que sumiu ligeiro de sua infância. Dean rompia o asfalto e desdobrava as curvas da estrada buscando um sentido de vida em cada movimento de guiar.
Por que seus olhos eram fracos, o espírito alcançava uma meta e o carro de aço polido, bólide embalando um gênio, substituido em ritmo desequilibrado do berço materno rompia o vento e libertava o menino daquela angústia escapando pelos blusões de couro negro, calças velhas de vaqueiro, cabelos inconformados de medusa.
Carregava um "mal de viver" e nunca foi surpreendido pela morte. Sabia da tragédia e a precipitou a cento e setenta quilômetros de coisas inexplicáveis.
Atualmente estou lendo o livro " O Século do Cinema" de Glauber Rocha e não pude deixar de folhear o capítulo sobre um dos meus cineastas favoritos: Stanley Kubrick e comentar sobre as considerações que Glauber faz a respeito deste gênio do cinema. O fato é que Kubrick logo em seu segundo filme " O Grande Golpe" de 1956, realizou uma revolução nos padrões do cinema: a ruptura da ordem cronológica da narrativa, que Glauber, em seu livro, definiu assim:
" Kubrick é revolucionário porque quebra a linha tradicional da narrativa direta e cronológica, retrocedendo num tempo eminentemente dramático, correndo o risco de arrebentar o ritmo de suspense pretendido e necessário ao próprio acabamento do filme"
Apesar de Glauber ter pontuado que Kubrick corria o risco de atrapalhar o ritmo do suspense na narrativa, sua ruptura da ordem cronológica é tão bem estruturada que os cortes da linearidade na narrativa apenas fortificam o ritmo de suspense. Neste sentido, pode-se afirmar que a ruptura da ordem significa a estruturação de um novo conceito, um novo modelo cinematográfico.